Apocalipse, Capítulo 19 Explicado


A vitória final dos santos 

Versículos 1-3 — “E, depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor, nosso Deus, porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia! E a fumaça dela sobe para todo o sempre.”

    O apóstolo continua analisando o tema de Apocalipse 18 e introduz aqui o cântico de triunfo que os remidos cantam, acompanhando com suas harpas vitoriosas, quando presenciam a completa destruição do sistema da grande Babilônia, que se opõe a Deus e ao Seu verdadeiro culto. Essa destruição tem lugar e este cântico é cantado em relação com a segunda vinda de Cristo no começo do milênio.
    Para todo o sempre — Pode surgir apenas uma questão sobre essa passagem: Como pode se dizer que a sua fumaça sobe para todo o sempre? Esta linguagem não parece indicar a ideia de sofrimentos eternos? Lembremo-nos de que é uma linguagem tomada do Antigo Testamento, e para compreendê-la corretamente devemos procurá-la na origem e considerar o sentido em que aí é usada. Em Isaías 34 se encontrarão as frases de que, com toda a probabilidade, foram tiradas essas expressões. Sob a figura de um castigo à terra da Idumeia, é apresentada certa destruição. Diz-se acerca desse país que os seus riachos se  transformariam em piche, o seu pó, em enxofre, e a sua terra em piche ardente, e nem de noite nem de dia se apagaria, mas para sempre subiria a sua fumaça. Todos devem concordar que esta linguagem deve aplicar-se a uma entre duas coisas: ou do país particular chamado Idumeia, ou de toda a Terra sob esse nome. Em ambos os casos é evidente que a linguagem “para todo o sempre” deve ser limitada em sua aplicação. Provavelmente é representada toda a Terra, pois que o capítulo inicia-se com palavras dirigidas à “terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a indignação do Senhor está contra todas as nações.” (Isaías 34:1).
    Agora, quer isto se refira à despovoação e desolação da Terra no segundo advento, quer aos fogos purificadores que hão de limpá-la dos efeitos da maldição no fim do milênio, a linguagem deve ser limitada, porque depois disto há de surgir uma Terra renovada, para habitação das nações dos salvos por toda a eternidade. Três vezes é usada na Bíblia esta expressão de fumaça subindo para sempre: uma vez aqui em Isaías 34, do país da Idumeia  como figura da Terra; em Apocalipse 14, dos adoradores da besta e de sua imagem; e outra vez no capítulo que estamos considerando, referindo-se à destruição da grande Babilônia, e todas elas se aplicam exatamente ao mesmo tempo, e descrevem as mesmas cenas, a saber, a destruição que sobrevém a esta Terra, aos adoradores da besta e a toda a pompa da grande Babilônia, quando ocorre a segunda vinda de nosso Senhor e Salvador.

Versículos 4-8 – “E os vinte e quatro anciãos e os quatro animais prostraram-se e adoraram a Deus, assentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia! E saiu uma voz do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, tanto pequenos como grandes. E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor, Deus Todo-poderoso, reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.”

    Um cântico de triunfo — “Reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” diz este cântico. Reina atualmente, e sempre reinou, na realidade, embora não tenha sido executada há mais tempo a sentença contra uma obra má. Agora reina pela clara manifestação do Seu  poder ao subjugar todos os Seus inimigos. “Alegremo-nos, [...] porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou.” Quem é a “esposa”, a mulher do Cordeiro, e o que são as bodas? A esposa do Cordeiro é a Nova Jerusalém celestial. Isto é mais extensamente notado em Apocalipse 21. As bodas do Cordeiro referem-se à recepção da santa cidade por Jesus. Quando Ele a recebe, o faz como a glória e a metrópole do Seu reino. Ao recepcioná-la, recebe o Seu reino e o trono do Seu pai Davi. Este bem pode ser o acontecimento designado pelas bodas do Cordeiro.
    A relação matrimonial é muitas vezes usada para representar a união entre Cristo e o Seu povo, como fato reconhecido. Mas as bodas do Cordeiro que se menciona aqui são um acontecimento definido que deve ocorrer num tempo definido. E se a tentativa de provar que a declaração contida em Efésios 5:23 — “Cristo é a cabeça da igreja como o marido é a cabeça da mulher” —, de que a igreja já seria hoje a esposa do Cordeiro, então as bodas do Cordeiro já ocorreram há muito tempo. Mas isso não pode ser, pois esta passagem as coloca [as bodas] em um tempo futuro. Paulo disse aos coríntios que os tinha casado com um marido, a saber, Cristo. Isto é verdade acerca de todos os conversos. Mas embora esta figura seja usada para significar a relação que tinham assumido então para com Cristo, por acaso pode-se dizer que as bodas do Cordeiro se efetuaram em Corinto, no tempo de Paulo, e que têm continuado durante os últimos 1.900 anos? Deixemos quaisquer outras observações sobre este ponto até estudarmos Apocalipse 21.
    Mas se a cidade é a esposa, pode alguém perguntar: Por que se diz que ela se aprontou? Resposta: Pela figura [de linguagem] da personificação [prosopopeia], que atribui vida e ação a objetos inanimados. (Ver exemplo no Salmo 114). Da mesma forma pode surgir dúvida sobre o versículo oito: Como é que uma cidade pode se vestir com a justiça dos santos? Mas ao considerarmos que uma cidade sem habitantes não passaria de um lugar triste e sombrio, vemos imediatamente como é isto. A referência é acerca do incontável número dos seus glorificados habitantes com a sua roupa resplandecente. A ela foi concedido o vestido. Que lhe foi concedido? Encontramos a explicação em Isaías 54 e em Gálatas 4:21-31. À cidade da nova aliança foram concedidos muitos mais filhos do que à da antiga aliança. Eles são a sua glória e regozijo. O belo traje desta cidade, por assim dizer, consiste nas hostes dos remidos e seres imortais que andam em suas ruas de ouro.

Versículos 9 e 10 — “E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus. E eu lancei-me a seus pés para o adorar, mas ele disse-me: Olha, não faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”

    A ceia das bodas — Muitas são as referências a esta ceia de bodas no Novo Testamento. Ela é mencionada na parábola das bodas do filho do rei (Mateus 22:1-14) e em Lucas 14:16-24. É a ocasião em que comeremos pão no reino de Deus, quando formos recompensados na ressurreição dos justos (Lucas 14:12-15). É quando beberemos de novo do fruto da vide com o nosso Redentor no Seu reino celeste (Mateus 26:29; Marcos 14:25; Lucas 22:18). É o momento de nos sentarmos em Sua mesa no reino (Lucas 22:30), e Ele Se vestirá adequadamente para nos servir (Lucas 12:37). Abençoados e felizes, com efeito, são os que têm o privilégio de participar deste glorioso banquete.
    O conservo de João — Uma palavra sobre o versículo 10, quanto àqueles que pensam que encontram aqui um argumento para o estado consciente na morte. O erro cometido por essas pessoas na interpretação desta passagem ocorre quando supõem que o anjo disse a João ser um dos antigos profetas que veio comunicar-se com ele. A pessoa empregada para transmitir o Apocalipse a João é chamada anjo, e os anjos não são os espíritos desencarnados dos mortos. Quem sustenta que é assim, pertence às fileiras espíritas, porque esta crença é a própria pedra fundamental da sua teoria. Mas o anjo não diz tal coisa. Simplesmente diz que é o conservo de João, como tinha sido conservo de seus irmãos, os profetas. O termo “conservo” implica que todos eles eram iguais no sentido de serem servos do grande Deus, e por isso o anjo não devia ser adorado. Ao chamar os profetas “teus irmãos” quer dizer que todos pertencem à mesma classe no serviço de Deus. (Ver o comentário sobre Apocalipse 1:1, intitulado “Seu anjo”).

Versículos 11-21 — “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito que ninguém sabia, senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste salpicada de sangue, e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos que há no céu em cavalos brancos e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso. E na veste e na sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS e Senhor DOS Senhores. E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde e ajuntai-vos à ceia do grande Deus, para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam, e a carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes. E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos, para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo e ao seu exército. E a besta foi presa e, com ela, o falso profeta, que, diante dela, fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre. E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes.”

    A segunda vinda de Cristo Com o versículo 11 é introduzida uma nova cena. Somos aqui levados para a segunda vinda de Cristo, desta vez sob o símbolo de um guerreiro que sai para a batalha. Por que é Ele assim apresentado? Porque vai à guerra, para enfrentar “os reis da Terra e os seus exércitos”, e esta era a única maneira própria de O representar em tal missão. As Suas vestes estavam salpicadas de sangue. (Ver uma descrição da mesma cena em Isaías 63:14). Seguem-nO os exércitos do Céu, os anjos de Deus. O versículo 15 mostra como Ele regerá as nações com vara de ferro, quando Lhe forem dadas por herança, como se vê no Salmo 2, que a teologia popular interpreta como sendo a conversão do mundo.
    Mas expressões como “Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso” não constituiriam uma descrição muito singular de uma obra de graça sobre os corações dos gentios para a sua conversão? A grande demonstração final do “lagar da ira de Deus” e também do “lago de fogo” ocorre no fim do milênio, como se descreve em Apocalipse 20. E a isso pareceria que deve aplicar-se a descrição completa e formal de Apocalipse 14:18-20. Mas a destruição dos ímpios vivos na segunda vinda de Cristo, no começo do milênio, apresenta uma cena em menor escala, semelhante sob ambos estes aspectos à que ocorre no fim daquele período. Por isso, nos versículos que consideramos mencionam tanto o lagar da ira como o lago de fogo.
    Nesse tempo Cristo terminou a Sua obra mediadora e substituiu Suas vestes sacerdotais pelo traje real, porque tem na Sua vestimenta e na Sua coxa escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Isto está em harmonia com o caráter em que Ele aqui aparece porque era costume dos guerreiros ter algum título inscrito em seu traje (verso 16). Que deve compreender-se pelo anjo que estava no Sol? Em Apocalipse 16:17 vemos que a sétima taça é derramada no ar, do que se infere que como o ar envolve toda a Terra, essa praga seria universal. Não poderá aplicar-se aqui o mesmo princípio de interpretação, mostrando que o anjo que estava no Sol e clamava desde aí às aves do céu para irem à ceia do grande Deus, significa que esta proclamação será levada por toda parte onde os raios do Sol incidem sobre a Terra? As aves serão obedientes ao chamado, e se fartarão com a carne dos cavalos, dos reis, dos tribunos, e dos fortes. Assim, enquanto os santos participam na ceia das bodas do Cordeiro, os ímpios em suas próprias pessoas fornecem uma grande ceia às aves do céu.
    A besta e o falso profeta são presos — O falso profeta é o que opera milagres diante da besta. Isto prova a sua identidade com a besta de dois chifres do capítulo 13, a quem a mesma obra, para o mesmo fim, é aí atribuída. O fato de serem lançados vivos no lago de fogo mostra que esses poderes não serão sucedidos por outros, mas são poderes vivos e operantes por ocasião da segunda vinda de Cristo.
    O papado há muito que tem estado no campo de ação e chega às cenas finais da sua carreira. Sua destruição está enfaticamente predita noutras profecias além da que temos diante de nós, particularmente em Daniel 7:11, em que o profeta diz que esteve olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo. Este poder há de estar muito perto do fim da sua existência. Mas não morre até que Cristo apareça, porque é lançado vivo no lago de fogo.
    O outro poder associado a este, a besta de dois chifres, está a aproximar-se, agora, rapidamente do clímax da obra que fará antes de também ser jogada viva no lago de fogo. Quão impressionante é o pensamento de que temos diante de nós dois dos grandes instrumentos proféticos que se encontram, segundo todas as evidências, perto do fim da sua história que não será concluída até que o Senhor apareça em toda a Sua glória.
    Pelo versículo 21 torna-se evidente que fica um resto não contado com a besta e o falso profeta. Este resto é morto pela espada dAquele que está sentado sobre o cavalo, espada essa que sai da Sua boca. Esta espada é sem dúvida aquela de que noutro lugar se fala como sendo “o sopro dos Seus lábios” e “o assopro da Sua boca”, com que o Senhor há de matar os ímpios na Sua vinda e no Seu reino (Isaías 11:4; 2 Tessalonicenses 2:8).


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