Apocalipse, Capítulo 3 Explicado

As cartas de Jesus às igrejas (continuação)

Versículos 1-6 — “E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer, porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei. Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

    A Igreja de Sardes — Se as datas das igrejas [períodos] anteriores foram corretamente fixadas, o período abrangido pela igreja de Sardes começa no ano 1798. Sardes significa “príncipe ou cântico de alegria” ou “o que permanece”. Portanto, esta igreja é constituída pelas igrejas reformadas desde a data acima mencionada até o grande movimento que marcou outra era na história do povo de Deus.

    O motivo da acusação — O grande defeito encontrado na igreja desse período é que tem nome de que vive e está morta. Que elevada posição, do ponto de vista mundano, ocupou a igreja nominal durante esse período! Chamam a atenção os seus títulos sublimes e pomposos, e a sua aceitação pelo mundo. Mas depressa aumentaram nela o orgulho e a popularidade, ao ponto de rapidamente destruir a espiritualidade, apagando a linha de separação entre a igreja e o mundo. As organizações religiosas populares se tornaram igrejas de Cristo apenas no nome!
    Essa igreja devia ouvir a declaração da doutrina do segundo advento. “Se não vigiares, virei como ladrão.” Isso significa que a doutrina do advento seria proclamada, e a igreja seria posta sob o dever de vigiar. A vinda de que se fala é incondicional; só o modo como ocorrerá para cada indivíduo é que é condicional. O fato de não vigiarem não impediria a vinda do Senhor, mas, vigiando, podem evitar ser surpreendidos. O dia do Senhor surpreenderá só os que não vigiarem. “Vós, irmãos”, diz Paulo, “já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão.” l Tessalonicenses 5:4.
    “[...] em Sardes umas poucas pessoas”, parece implicar um período de mundanismo sem paralelo na igreja. Mas mesmo neste estado de coisas há alguns cujas vestes não estão contaminadas, alguns que se mantiveram livres dessa influência contaminadora. Tiago diz: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” Tiago 1:27.

    A promessa feita ao vencedor — “Andarão de branco junto comigo”. O Senhor não passa por alto Seus filhos em qualquer lugar, por pequeno que seja o seu número. Você que é cristão isolado, sem poder se comunicar com alguém que professe a mesma preciosa fé, parece que os exércitos dos infiéis querem engoli-lo? O Senhor não Se esqueceu de você. A multidão dos ímpios que o rodeiam não pode ser tão grande que o encubram da vista de Jesus. Caso consiga, pela graça de Deus, manter-se livre da mancha do mal que o rodeia, a promessa dEle é segura. Você vai andar em glória com o Senhor. “Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima.” (Apocalipse 7:17).
    O ser vestido de roupas brancas é explicado noutras passagens como um símbolo de trocar a iniquidade por justiça. (Ver Zacarias 3:4 e 5). “Tirai-lhe estes vestidos sujos”, é explicado pela linguagem que se segue: “Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade.” “O linho fino”, ou as vestes brancas, “são as justiças dos santos.” Apocalipse 19:8.

    O livro da vida — Eis um objeto de extraordinário interesse! Volumoso livro, em que estão registrados os nomes de todos os candidatos à vida eterna! Será que nossos nomes podem ser riscados do livro da vida, mesmo depois de estarem registrados nele? Sim, caso contrário, nunca se daria essa advertência. Até Paulo temia ser reprovado (1 Coríntios 9:27). A única maneira para os nossos nomes permanecerem nesse livro consiste em nos mantermos vencedores até o fim. Mas nem todos vencerão. Seus nomes, claro, serão riscados. Aqui se faz referência a um tempo determinado no futuro, quando essa obra deverá ocorrer. “De modo nenhum apagarei o nome” dos vencedores, o que equivale a afirmar que ao mesmo tempo apagará os nomes dos que não vencerem. Não se tratará do tempo mencionado por Pedro? “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19).
    Dizer ao vencedor que o seu nome não será apagado do livro da vida é o mesmo que dizer que os seus pecados serão apagados do livro onde estão registrados, para não serem mais recordados contra ele (Hebreus 8:12). Significa que seu nome ou seus pecados serão apagados dos livros de registro celestial. Como é precioso o pensamento de que agora somos perdoados se confessamos nossas transgressões! Então, se permanecemos fiéis a Deus, os pecados serão apagados ao vir Jesus.
    Quando essa hora decisiva chegar, que não pode estar em futuro muito distante, que acontecerá com você, leitor? Serão apagados os seus pecados e seu nome será conservado no livro da vida? Ou será o seu nome apagado desse livro, e os seus pecados permanecerão anotados, como um terrível registro contra você?

    A apresentação na glória — “Confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante de Seus anjos.” Cristo ensinou que, segundo os homens O confessarem ou negarem, O desprezarem ou honrarem na Terra, assim serão confessados ou negados por Ele diante de Seu Pai que está nos Céus e diante de Seus anjos (Mateus 10:32 e 33; Marcos 8:38; Lucas 12:8 e 9). Quem pode medir a honra de serem aprovados diante dos exércitos celestes! Quem poderá compreender a alegria daquele momento em que serão confessados pelo Senhor da vida diante do Pai como tendo feito a Sua vontade, combatido o bom combate, corrido a carreira, honrado o Seu nome diante dos homens e vencido, e cujos nomes são dignos, pelos méritos dEle, de permanecer no imperecível registro da vida para todo o sempre!

Versículos 7-13 — “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre: Eu sei as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás (aos que se dizem judeus e não são, mas mentem), eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo. Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra. Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

    A igreja de Filadélfia — A palavra Filadélfia significa “amor fraternal” e reproduz a situação e espírito dos que receberam a mensagem do Advento até o outono de 1844. O grande despertamento, vindo do estudo das profecias, produziu-se durante a primeira parte do século XIX, e atingiu o seu ponto máximo no movimento do Advento. Homens de todas as organizações religiosas ficaram convencidos de que se aproximava a vinda de Cristo. Ao saírem das diversas igrejas, deixaram atrás de si nomes e sentimentos partidários. Os corações batiam em harmonia, ao darem o alarme às igrejas e ao mundo, e indicavam a vinda do Filho do homem como a verdadeira esperança do crente. Punham-se de lado o egoísmo e a cobiça e manifestavam um espírito de consagração e sacrifício. O Espírito de Deus acompanhava cada verdadeiro crente, e o Seu louvor estava em cada língua. Os que não participaram naquele movimento não podem compreender plenamente seu exame de coração, consagração completa a Deus, paz, alegria no Espírito Santo, e o puro e fervoroso amor mútuo, que os verdadeiros crentes então desfrutavam.

    “A chave de Davi”— Uma chave é símbolo de poder. O Filho de Deus é o legítimo herdeiro do trono de Davi e está prestes a assumir o Seu grande poder e reinar; daí o ser representado como tendo a chave de Davi. O trono de Davi, ou de Cristo, sobre o qual Ele deve reinar, encontra-se na capital do Seu reino, na Nova Jerusalém, agora no Céu, mas que há de ser trasladada a esta Terra, onde Ele reinará para sempre (Apocalipse 21:1-5; Lucas 1:32 e 33).

    “O que abre e ninguém fecha” — Para compreender esta linguagem é necessário considerar a posição e obra de Cristo relacionada com o Seu ministério no santuário, ou o verdadeiro tabernáculo celeste (Hebreus 8:2). Existia antigamente aqui na Terra uma figura ou cópia desse santuário celeste, no santuário construído por Moisés (Êxodo 25:8 e 9; Atos 7:44; Hebreus 9:1, 21, 23 e 24). O edifício terrestre tinha dois compartimentos: o lugar santo e o lugar santíssimo (Êxodo 26:33 e 34). No primeiro compartimento estavam o castiçal, a mesa dos pães da proposição e o altar do incenso. No segundo estavam a arca, que continha as tábuas da Aliança, ou os Dez Mandamentos, e os querubins (Hebreus 9:1-5). Semelhantemente, o santuário em que Cristo ministra no Céu tem dois compartimentos, porque nos é indicado claramente em Hebreus 9:21-24 que “o tabernáculo e todos os utensílios do serviço sagrado” eram “figuras das coisas que se acham nos céus”. Como todas as coisas foram feitas segundo o seu modelo, o santuário celeste tinha também móveis semelhantes aos do terrestre. Para o antítipo [o elemento original, que devia ser representado] do castiçal e altar do incenso, construído de ouro, que se encontravam no primeiro compartimento, ver Apocalipse 4:5; 8:3, e para o antítipo da arca da Aliança, com os seus Dez Mandamentos, ver Apocalipse 11:19. No santuário terrestre ministravam os sacerdotes (Êxodo 28:41 e 43; Hebreus 9:6 e 7; 13:11, etc.) O ministério desses sacerdotes era uma sombra ou representação do ministério de Cristo no santuário celeste (Hebreus 8:4 e 5).
    Cada ano realizava-se um ciclo completo de serviço no santuário terrestre (Hebreus 9:7). Mas no tabernáculo celeste o serviço é realizado de uma vez por todas (Hebreus 7:27; 8:12). No fim do serviço típico anual, o sumo sacerdote entrava no segundo compartimento, o lugar santíssimo do santuário, para fazer expiação, e essa era chamada a purificação do santuário (Levítico 16:20, 30 e 33; Ezequiel 45:18). Quando começava o ministério no lugar santíssimo, o do lugar santo era encerrado, e nenhum serviço se realizava no primeiro compartimento [lugar santo] enquanto o sacerdote estava ocupado no lugar santíssimo (Levítico 16:17).
    Semelhante ato de abrir e fechar, ou mudança de ministério devia ser efetuado por Cristo quando chegasse o tempo para a purificação do santuário celeste. E esse tempo havia de chegar ao final do período dos 2.300 dias, ou seja, em 1844. A este acontecimento pode aplicar-se com propriedade o abrir e fechar mencionados no texto que agora consideramos, onde o ato de abrir representaria o começo do ministério de Cristo no lugar santíssimo, e o ato de fechar, à interrupção de Seu serviço no primeiro compartimento, ou lugar santo. (Ver exposição do assunto do santuário e sua purificação, com relação a Daniel 8:14).
    O versículo 4 aplica-se aos que não acompanham a progressiva luz da verdade e se opõem aos que o fazem. Essas pessoas ainda sentirão e confessarão que Deus ama os que obedecem à Sua palavra e continuam a avançar no conhecimento da Sua verdade.

    “A palavra da Minha paciência” — Diz João em Apocalipse 14:12: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Os que agora vivem em paciente e fiel obediência aos mandamentos de Deus e à fé de Jesus serão guardados na hora de tentação e de perigo. (Ver comentários em Apocalipse 13:13-17).

 “Eis que venho sem demora” — Apresenta-se aqui de novo a segunda vinda de Cristo, com maior ênfase do que em qualquer mensagem anterior. Chama-se a atenção dos crentes para a proximidade desse acontecimento. A mensagem aplica-se a um período em que está iminente esse grande evento. Isto evidencia de modo incontestável a natureza profética dessas mensagens. O que se diz das três primeiras igrejas não faz referência alguma à segunda vinda de Cristo, pois não abrangem um período em que se pudesse esperar, biblicamente, o Seu retorno. Mas com a igreja de Tiatira, tinha chegado o momento em que esta grande esperança começava a raiar sobre a igreja. A mente é levada para essa esperança por uma simples alusão: “Retende-o até que Eu venha.”
    A etapa seguinte, o período de Sardes, encontra a igreja mais próxima desse acontecimento, e se menciona a grande proclamação que anunciaria a vinda de Cristo, e impõe-se à igreja o dever de vigiar: “Se não vigiares virei como ladrão.” Mais tarde chegamos à igreja de Filadélfia, e a proximidade desse grande acontecimento leva Aquele que “é santo e verdadeiro” a pronunciar a iminente declaração: “Eis que venho sem demora.” 
    De tudo isso se conclui que essas igrejas ocupam épocas sucessivas mais próximas do grande dia do Senhor, visto que, numa intensidade cada vez mais pronunciada, esse grande acontecimento vai-se realçando cada vez mais, e vai sendo chamada a atenção a ele de modo mais definitivo e impressionante. Ao chegar a esse período, a igreja pode ver, de fato, que se vai aproximando aquele dia (Hebreus 10:25).

    A advertência — “Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” Pela nossa fidelidade não privamos ninguém de receber sua coroa. O verbo traduzido por “tomar” tem diversos significados, um dos quais é “tirar, arrebatar, privar de”. Que ninguém e nada induza você a abandonar a verdade, ou o leve a se afastar dos retos caminhos do Senhor, porque fazendo assim, você perderia a recompensa.

    A promessa ao vencedor — Nesta carta o vencedor tem a promessa de ser feito uma coluna no templo de Deus e de nunca sair dele. O templo aqui deve significar a igreja, e a promessa de ser feito uma coluna dela é a maior que se podia dar de um lugar de honra, permanência e segurança na igreja, sob a figura de um edifício celestial. Quando chegar o tempo de se cumprir esta parte da promessa, terá passado o tempo de graça, e o vencedor estará plenamente firmado na verdade e selado. “Dele nunca sairá”, isto é, não há mais perigo de apostatar. Pertencerá ao Senhor para sempre; a sua salvação é certa.
    Pode-se dizer que desde o momento em que os cristãos vençam e sejam selados para o Céu, são etiquetados como pertencendo a Deus e a Cristo, e dirigidos ao seu destino: a Nova Jerusalém. Hão de ter escrito sobre si o nome de Deus, de quem são propriedade, o nome da Nova Jerusalém, aonde se dirigem, e não da velha Jerusalém, que alguns estão buscando em vão. Também terão sobre si o novo nome de Cristo, por cuja autoridade hão de receber a vida eterna e entrar no reino. Assim selados e etiquetados, os santos de Deus estão seguros. Nenhum inimigo poderá impedir que atinjam o seu destino, seu glorioso porto de repouso, a Jerusalém celestial.

Versículos 14-22 — “E ao anjo da igreja que está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

    A igreja de Laodiceia — “Laodiceia” significa o “juízo do povo”, ou, segundo Crüden, “um povo justo”. A mensagem a esta igreja apresenta as cenas finais do tempo de graça. Revela um período de juízo. É o último período da igreja. Por conseguinte, aplica-se aos crentes sob a terceira mensagem, a última mensagem de misericórdia antes da vinda de Cristo (Apocalipse 14:9- 14). Enquanto se realiza o grande dia da expiação, e progride o juízo investigativo sobre a casa de Deus, há um período durante o qual a igreja expectante observa como regra de vida a santa e justa lei de Deus.

    “Isto diz o Amém” — Esta é, pois, a mensagem final dirigida às igrejas antes do fim do tempo da graça. A descrição do estado dos indiferentes laodicenses é surpreendente e terrível. Contudo, não se pode negá-la, porque a Testemunha é “fiel e verdadeira”. Além disso, Ela é “o Princípio da criação de Deus”. Alguns procuram apoiar nesta linguagem o erro de que Cristo é um Ser criado, mas com existência anterior a todos os outros seres ou coisas criadas, seguindo em ordem ao Deus eterno e existente por Si mesmo. Mas a linguagem não dá a entender que Ele foi criado, porque as palavras “o princípio da criação”, significam simplesmente que a obra da criação, estritamente falando, foi iniciada por Ele. “Sem Ele nada do que foi feito se fez.” Mas outros, pensamos que com mais razão, interpretam a palavra [arché] como significando “agente” ou “causa eficiente”, que é uma das definições da palavra, e entendem que Cristo é o Agente por meio do qual Deus criou todas as coisas.

    A causa da censura — A censura apresentada contra os laodicenses é que são mornos, nem frios nem quentes. Necessitam daquele fervor religioso e daquela devoção exigidas por sua posição na história final do mundo e pelo fato de ter o seu caminho iluminado pela luz da profecia. Essa mornidão se manifesta pela ausência de boas obras, porque é o conhecimento das suas obras o que leva a Testemunha fiel e verdadeira a apresentar essa terrível censura contra eles.

    “Quem dera fosses frio ou quente!” — Nesta mensagem apresentam-se três estados espirituais: o frio, o morno e o quente. É importante determinar o que representa cada condição, a fim de nos precavermos contra conclusões errôneas. Podem considerar-se três condições de vida espiritual com respeito à igreja e não ao mundo. Não é difícil compreender o que significa o termo “quente”. Imediatamente nos lembramos do estado de intenso fervor, em que todas as afeições, elevadas ao mais alto grau, se concentram em Deus e Sua causa e se manifestam em obras correspondentes. A mornidão é a falta desse zelo, é um estado sem fervor no coração, em que não há abnegação, nem vontade de levar uma cruz, nem decidido testemunho de Cristo, nem valorosa combatividade que mantenha a armadura brilhante. O que é pior de tudo é o sentimento de completa satisfação com esse estado. Mas ser frio, o que é? Indica um estado de corrupção, impiedade e pecado, que caracteriza o mundo dos descrentes? Não podemos considerar assim pelos seguintes motivos:
    (1) Seria repulsivo representar, sob quaisquer circunstâncias, a Cristo como desejando que as pessoas estivessem em tal condição, porque diz: “Quem dera fosses frio ou quente!”
    (2) Nenhum estado pode ser mais ofensivo para Cristo do que o do pecador em aberta rebelião e com o coração cheio de todo mal. Seria, portanto, incorreto representar a Cristo como preferindo esse estado a qualquer posição que o Seu povo possa ocupar enquanto é ainda retido como Seu.
    (3) A ameaça de rejeição exposta no versículo 16 é porque não são nem frios nem quentes. É o mesmo que dizer que, se fossem frios ou quentes, não seriam rejeitados. Mas se frio significa um estado de aberta impiedade mundana, seriam rejeitados por esse mesmo fato. Donde concluímos que não pode ser esse o seu significado.
    (4) Então somos forçados a concluir que por esta linguagem nosso Senhor não Se refere de maneira alguma aos que estão fora da Sua igreja, mas aos três graus de afeições espirituais, dois dos quais são mais aceitáveis aos Seus olhos do que o terceiro. O calor e o frio são preferíveis à mornidão. Mas que espécie de estado espiritual é significado pelo termo “frio”? Podemos observar, primeiramente, que é um estado de sentimento. Sob este aspecto é superior à mornidão, que é um estado de relativa insensibilidade, indiferença e suprema satisfação própria. Ser quente é também encontrar-se num estado de sentimento. E assim como o quente representa alegre fervor e um vivo exercício de todas as afeições, com um coração transbordante da sensível presença e amor de Deus, assim, por frio podemos compreender uma condição espiritual caracterizada pela ausência desses traços, mas em que o indivíduo sente essa ausência. Este estado encontra-se bem expresso pela linguagem de Jó: “Ah, se eu soubesse que O poderia achar!” (Jó 23:3).
    Nesse estado não há indiferença nem contentamento, mas uma sensação de frieza, incapacidade e falta de preparo, buscando-se algo melhor. Há esperança para uma pessoa nessas condições. Quando alguém sente que lhe falta algo, esforça-se para conseguir isso. O mais desanimador aspecto do morno é que não sente falta nem necessidade de nada. É mais fácil entender por que o Senhor preferia ver a Sua igreja num estado de insatisfeita frieza, a vê-la num estado de confortável, indiferente e fácil mornidão. Uma pessoa não permanece muito tempo fria. Seus esforços a empurrarão rapidamente para o estado fervoroso. Mas o morno está em perigo de assim permanecer até que a Testemunha fiel e verdadeira seja obrigada a rejeitá-lo como coisa nauseante e asquerosa.

    “Estou a ponto de vomitar-te da Minha boca” — Aqui é reforçada ainda a figura, e a rejeição do morno ilustrada pelos nauseantes efeitos da água morna. Significa uma rejeição final, uma separação completa da Sua igreja.

    “Estou rico e abastado” — É o que os laodicenses pensam de sua condição. Não são hipócritas, porque não sabem que são pobres, miseráveis, cegos e nus.

    O conselho — “Que de Mim compres”, diz a Testemunha verdadeira, “ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifestada a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas”. Isto mostra logo aos iludidos laodicenses as coisas que lhes faltam e o grau de sua pobreza. Mostra, também, onde podem obter aquilo de que tanto precisam e apresenta-lhes a necessidade de o obterem sem demora. O caso é tão urgente que o nosso grande Advogado na corte celeste nos envia um conselho especial sobre este ponto. O fato de Aquele que condescendeu em indicar o que nos falta, e nos aconselhar a comprar, ser o mesmo que pode conceder essas coisas e nos convida a procurá-las junto de Si, é a melhor garantia de ser respeitado o nosso esforço e de serem atendidos os nossos pedidos.
    Mas como podemos comprar essas coisas? Exatamente como compramos todas as outras graças do Evangelho. “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.” Isaías 55:1. Desse modo compramos, pedindo; compramos, lançando fora as inúteis ninharias da Terra e recebendo em seu lugar inestimáveis tesouros; compramos, indo simplesmente e recebendo; compramos, nada dando em pagamento. O que compramos nós assim de graça? Pão que não acaba, vestes imaculadas que não se mancham, riquezas que não se corrompem e uma herança que não se dissipa. Estranho comércio este! Todavia o Senhor condescende em tratar assim o Seu povo. Ele poderia apresentar-nos como mendigos, mas em vez disso dá-nos os tesouros de Sua graça, e em troca recebe nossa indignidade, para que recebamos as bênçãos que nos concede, não como esmolas atiradas a mendigos, mas como legítimas aquisições de honrada compra. As coisas que se devem obter reclamam particular atenção.

    “Ouro refinado pelo fogo” — O ouro, considerado literalmente, é o nome que abrange todos os bens e riquezas materiais. Em sentido figurado pode significar as riquezas espirituais. Que graça, então, é representada pelo ouro? Sem dúvida, não é uma só graça que corresponde a esse termo. O Senhor disse à igreja de Esmirna que sabia da sua pobreza, mas que era rica. Esse testemunho mostra que a sua riqueza consistia em lhe ser dada, no fim, a posse da coroa da vida. Diz Tiago: “Ouvi, meus amados irmãos, porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam?” E Paulo diz: “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que se não veem.” (Hebreus 11:1). Ser “rico para com Deus” — rico no sentido espiritual — é ter direito às promessas, ser herdeiro de “uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus” (1 Pedro 1:4). “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29).
    E como poderemos obter essa herança? Da mesma forma que Abraão obteve a promessa, isto é, pela fé (Romanos 4:13 e 14).
    Não admira, pois, que Paulo consagrasse todo um capítulo — Hebreus 11 — a esse importante assunto, apresentando os maravilhosos feitos realizados e as preciosas promessas alcançadas por meio da fé. Em Hebreus 12:1 ele conclui maravilhosamente seu argumento, exortando os cristãos a porem de lado todo peso e o pecado (de incredulidade) que tão de perto os rodeia.
    Nada fará secar mais rapidamente a fonte da espiritualidade e lançar-nos em pobreza completa quanto às coisas do reino de Deus do que deixar que a fé saia, e entre em seu lugar a incredulidade. Toda ação, para ser agradável aos olhos de Deus, deve ser inspirada pela fé. Quem se aproxima de Deus, a primeira coisa necessária a fazer é crer que Ele existe. E por meio da fé, como principal agente sob a graça de Deus, que havemos de ser salvos (Hebreus 11:6; Efésios 2:8).
    Daqui se conclui que a fé é o elemento principal da riqueza espiritual. Mas se, como já observamos, nenhuma graça única pode corresponder ao significado pleno do termo “ouro”, então, certamente outras coisas são incluídas com a fé. “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”, diz Paulo. Assim, a esperança acompanha inseparavelmente a fé (Hebreus 11:1; Romanos 8:24 e 25). Além disso, Paulo diz-nos que a fé opera por amor, e fala noutro lugar de sermos ricos “em boas obras” (Gálatas 5:6; 1 Timóteo 6:18). Portanto, o amor não pode ser isolado da fé. Temos, então, diante de nós as três qualidades associadas por Paulo em 1 Coríntios, cap. 13: fé, esperança e amor, mas a maior dessas é o amor. Tal é o ouro refinado pelo fogo que somos aconselhados a comprar.

    Roupas brancas — Sobre este ponto não há lugar para discussão e debate. Alguns textos nos oferecem a chave para compreender essa expressão. Diz o profeta: “Todas as nossas justiças [são] como trapos de imundícia” (Isaías 64:6). Somos aconselhados a comprar o contrário dos trapos de imundícia, ou seja, roupas completas, sem mancha. A mesma figura é empregada em Zacarias 3:3 e 4 e João em Apocalipse 19:8, claramente diz que “o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos.”

    O colírio — É mais comum haver diversidade de opinião quanto ao colírio do que sobre as vestes brancas. A unção dos olhos não se deve tomar em sentido literal, porque se faz referência às coisas espirituais. O colírio deve significar aquilo que desperta o nosso discernimento espiritual. A Palavra de Deus nos revela um Agente por meio do qual isso se realiza, a saber, o Espírito Santo. Em Atos 10:38 lemos que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo”. O mesmo autor que nos transmitiu a revelação de Jesus Cristo, que estamos estudando, escreveu à igreja em sua primeira epístola nos seguintes termos: “E vós possuís a unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento.” “Quanto a vós outros, a unção que dEle recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nEle, como também ela vos ensinou.” 1 João 2:20 e 27. A obra que aqui se apresenta como realizada pela unção é exatamente a mesma que João atribui ao Espírito Santo, no seu Evangelho: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a Quem o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” João 14:26. (Ver também João 16:13).
    A Testemunha fiel e verdadeira nos aconselha, de um modo formal e solene, sob as figuras de ouro, vestiduras brancas e colírio, a procurar nEle, rápida e fervorosamente, um aumento das celestes graças da fé, esperança e amor, a justiça que só Ele pode dar, e a unção do Espírito Santo. Mas como é possível que um povo destituído dessas coisas se considere rico? Há uma explicação possível, e talvez necessária, visto não haver lugar para outra. Devemos observar que nos laodicenses não se encontra falta alguma quanto às doutrinas que professam. Não são acusados de abrigarem no seu meio nenhuma Jezabel, ou de apoiarem as doutrinas de Balaão ou dos nicolaítas. Pelo teor da carta, vemos que a sua crença é correta, e a sua doutrina sã.
    Deduz-se, então, que se satisfazem em ter uma doutrina correta. Satisfazem-se com uma correta forma de religião sem o seu poder. Tendo recebido luz acerca dos acontecimentos finais desta dispensação, e com correto conhecimento teórico das verdades que dizem respeito à última geração da humanidade, são inclinados a confiar nisso e negligenciam a parte espiritual da religião. É, sem dúvida, por suas ações, não por suas palavras, que se declaram ricos. Tendo tanta luz e verdade, que mais podem eles desejar? Se defendem a teoria, e no que diz respeito à sua vida exterior, se conformam com a progressiva luz derramada sobre os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, não será sua justiça completa? Não são ricos, e enriquecidos, e de nada tendo falta? Aqui está o seu fracasso. Todo o seu ser devia ansiar pelo espírito, o fervor, a vida, o poder do cristianismo vivo.

    A prova do amor — Por estranho que pareça, essa prova é o castigo. “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo.” Se estamos sem castigo, não somos filhos (Hebreus 12:8). Diz Augusto C. Thompson: “Apresenta-se aqui uma lei geral de Sua graciosa economia. Como todos necessitam de castigo em certa medida, também em certa medida o recebem, e têm assim provas da afeição do Salvador. É uma lição dura de aprender, e os crentes são lentos estudantes. Mas aqui, e através de toda a Palavra de Deus e Sua providência, estabelece-se que as provas são bênçãos Suas, e que nenhum filho é poupado à vara. Os estúpidos incorrigíveis são rejeitados, ao passo que os escolhidos para a gloriosa estrutura são sujeitos ao cinzel e ao martelo. Não há cacho na verdadeira vinha que não tenha de passar pelo esmagamento no lagar. ‘Quanto a mim’, diz um velho teólogo em aflição, ‘bendigo a Deus por ter observado e sentido tanta misericórdia nesta dura dispensação de Deus que estou quase transportado. Muito me alegro ao pensar quão infinitamente doces são Suas misericórdias, ao ver como os Seus castigos são graciosos.’ Atendendo, pois, à origem e desígnio dos castigos que recebes, ‘sê zeloso e arrepende-te’. Não percas tempo. Não percas um golpe de vara, mas arrepende-te imediatamente. Sê fervoroso no espírito. Tal é a primeira aplicação de encorajamento.”[23]

    “Sê, pois, zeloso e arrepende-te” — Ainda que, como vimos, o estado representado pela frieza seja preferível ao da mornidão, todavia não é um estado em que o Senhor deseja encontrar-nos. Nunca somos exortados a procurar esse estado. Somos aconselhados a atingir um muito mais elevado – a ser zelosos e fervorosos – e a ter nossos corações abrasados no serviço do Mestre.

    Cristo batendo à porta — “Aqui está o coração dos corações”, diz Augusto C. Thompson. “Não obstante a atitude ofensiva e defeituoso caráter deles, é tal o amor de Cristo por suas almas que Ele Se humilha a Si mesmo para solicitar o privilégio de abençoá-los. ‘Eis que estou à porta e bato.’ Por que Ele bate? Não porque não tenha casa. [...] Entre as mansões da casa de Seu Pai nem uma única está fechada para Ele, que é a vida de todos os corações, a luz de todos os olhos, o cântico de todos os lábios, na glória. Mas anda de porta em porta, em Laodiceia. Está junto de cada uma e bate, porque veio procurar e salvar o que se perdeu, porque não pode abandonar o propósito de comunicar vida eterna a todos os que o Pai Lhe deu, e porque não pode tornar-se conhecido do morador a não ser que se abra a porta e Lhe seja dado acolhimento. Comprou um campo? Comprou cinco juntas de bois? Está com o chapéu na mão, a pedir desculpas? Ele bate e torna a bater [...] É a hora do culto na igreja. Há oportunidade de fazer uma visita cristã a um indivíduo ou a uma família, mas você não se mexe [...] Oh, nauseante mornidão! Oh, fatal mundanismo! O Senhor da glória deixa o Seu palácio celeste, vem em pobreza, em suor, em sangue; vem à porta de um professo amigo, que tudo Lhe deve, e não pode entrar! Vem salvar um homem cuja casa está a arder, e você não O recebe! Oh, a altura, a profundidade da paciência de Jesus Cristo! Até o pagão Públio recebeu Paulo e o teve consigo três dias, cortesmente. Hão de os cristãos nominais dizer ao Senhor dos apóstolos que não têm aposento para Ele?”[24]

    “Se alguém ouvir a Minha voz” — O Senhor suplica, pois, ao mesmo tempo em que bate à porta. A palavra “se” implica que alguns não vão querer ouvir. Embora esteja à porta, bata e suplique, alguns fecharão os ouvidos as Suas súplicas. Não basta simplesmente ouvir. Devemos abrir a porta. Muitos que a princípio ouviram a voz, e por algum tempo se sentiram inclinados a prestar atenção, finalmente deixarão de fazer o necessário para garantir a si mesmos a comunhão do Hóspede divino.
    Leitor, estão os seus ouvidos abertos aos rogos que o Senhor lhe dirige? E o som da Sua voz é bem-vindo para você? Presta-Lhe atenção? Quer abrir-Lhe a porta e deixá-lO entrar? Ou está a porta do seu coração atravancada por montões de lixo deste mundo que não está disposto a remover? Lembre-se que o Senhor do mundo nunca força a entrada. Concorda em vir, bater e procurar acolhimento; mas estabelece a Sua morada apenas nos corações onde é um hóspede e convidado bem-vindo.
    Logo vem a promessa: “Entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Que expressivo e tocante quadro! Amigo com amigo, participando da alegre e social refeição! Mente com mente, em franca e íntima conversação! Que cena festiva deve ser aquela em que o Rei da glória é o Hóspede! Não é uma união comum, nem qualquer bênção ordinária, ou qualquer privilégio vulgar. Quem poderá ficar indiferente a tão carinhosa súplica e a tão graciosa promessa? Nem sequer nos é pedido que ponhamos à mesa para esse exaltado Convidado. Ele próprio a põe, não com o tosco alimento da Terra, mas com iguarias de Seu próprio celeiro celeste. Apresenta-nos aqui antegozos da glória que em breve será revelada. Dá-nos aqui garantias da nossa futura herança, incorruptível, imaculada e imperecível. Na verdade, quando tivermos cumprido as condições e recebermos esta promessa, experimentaremos o aparecimento da Estrela da Alva em nossos corações e contemplaremos o amanhecer de um glorioso dia para a igreja de Deus.

    A promessa ao vencedor — O Senhor faz a promessa de cear com os Seus discípulos antes de expressar a promessa final ao vencedor. Isto mostra que as bênçãos incluídas nessa promessa devem ser desfrutadas durante o tempo de graça e prova. E agora, como auge, eis a promessa ao vencedor: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono.” Aqui as promessas do Senhor chegam ao seu máximo. Do seu estado rebelde, caído, degradado e poluído, o homem é reconciliado com Deus pela obra do Redentor. É purificado das suas poluições, remido da queda, revestido da imortalidade, e finalmente convidado a sentar-se sobre o próprio trono do seu Salvador. A honra e a exaltação não podiam ir mais longe. As mentes humanas não podem compreender esse estado, nem pode descrevê-lo. Apenas podemos continuar trabalhando até que, vencedores por fim, saibamos o que é.
    Neste versículo não há apenas uma gloriosa promessa, mas também uma importante doutrina. É-nos aqui ensinado que Cristo reina ao mesmo tempo sobre dois tronos: o trono de Seu Pai e o Seu próprio trono. Ele declara neste versículo que venceu e agora está sentado com o Pai no Seu trono. Está agora associado com o Pai no trono do domínio universal, colocado à Sua direita, muito acima de todo principado, poder, potestade e domínio (Efésios 1:20-22). Nesta posição Ele é Rei-sacerdote. É Sacerdote, “Ministro do santuário”, mas ao mesmo tempo está “à destra do trono da Majestade no Céu.” (Hebreus 8:1 e 2). Essa posição e obra do Senhor foi assim predita pelo profeta Zacarias: “E fala-lhe dizendo: Assim fala e diz o Senhor dos exércitos [Deus]: Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo [Cristo]; Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do Senhor [...] Ele mesmo [Cristo] assentar-Se-á e dominará no Seu trono [de Deus]; e [Cristo] será sacerdote no Seu trono [de Deus]; e conselho de paz [na obra de sacrifício e sacerdócio de Cristo em favor do homem arrependido] haverá entre Eles ambos.” Zacarias 6:12 e 13.
    Mas está próximo o tempo em que Ele há de mudar Sua posição e, deixando o trono do Pai, tomar Seu próprio trono. E há de suceder isto quando chegar o tempo para a recompensa dos vencedores, porque quando receberem essa recompensa, se sentarão com Cristo em Seu trono, da maneira como Ele venceu e está agora sentado com o Pai no Seu trono. Essa mudança na posição de Cristo é apresentada por Paulo nos seguintes termos:

“Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, o Pai, e quando houver aniquilado todo império, e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de Seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo de Seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas Lhe estão sujeitas, claro está que Se excetua Aquele que Lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas Lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho Se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.” (1 Coríntios 15:24-28). 

    As verdades ensinadas neste trecho podem talvez ser realçadas por uma breve paráfrase, dando em cada caso, em vez dos pronomes, os nomes a que respectivamente se referem assim:

“Depois virá o fim [da presente dispensação], quando Cristo tiver entregado o reino [que Ele agora tem juntamente com o Pai], a Deus, o Pai, e quando Deus houver aniquilado todo império e toda potestade e força [opostos à obra do Filho]. Porque convém que Cristo reine [no trono de Seu Pai] até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés de Cristo. [Ver Salmos 110:1.] Ora, o último inimigo que será aniquilado é a morte. Porque todas as coisas sujeitou [então] debaixo dos pés de Cristo. Mas quando Deus diz que todas as coisas estão sujeitas a Cristo [e Ele começa a reinar no Seu próprio trono], claro está que Se excetua Deus, que sujeitou a Cristo todas as coisas. E quando todas as coisas estiverem sujeitas a Cristo, então também o mesmo Cristo Se sujeitará a Deus que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.”
 
    Conclui-se daqui que o reino que Cristo entrega ao Pai é o que Ele tem atualmente no trono de Seu Pai, onde se nos diz que está agora sentado. Entrega esse reino no fim dessa dispensação, quando chegar o tempo de ocupar o Seu próprio trono. Depois disso reinará no trono do Seu pai Davi, e só estará sujeito a Deus, que continua a reter a Sua posição no trono de domínio universal. Neste reino de Cristo participam os santos. “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono”. “E viveram”, diz João, “e reinaram com Cristo durante mil anos.” Compreendemos que este seja um reino especial, ou para um fim especial, como veremos no capítulo 20, porque o verdadeiro reino dos santos deve ser “para todo o sempre” (Daniel 7:18 e 27). Como poderá qualquer objetivo terrestre afastar os nossos olhos dessa perspectiva eterna e celeste?
    Assim terminam as mensagens às sete igrejas. Quão direto e perscrutador é o seu testemunho! Que lições encerram para todos os cristãos em todos os tempos! É tão verdade para a última como para a primeira igreja que todas as suas obras são conhecidas dAquele que anda no meio dos sete candeeiros de ouro. Nada pode escapar ao Seu penetrante olhar. Embora sejam assustadoras as Suas ameaças aos hipócritas e malfeitores, com toda a justiça, quão amplas, confortadoras, misericordiosas e gloriosas são suas promessas para os que O amam e seguem com sincero coração!



Referências bibliográficas

[23] THOMPSON, Augusto. Morning Hours in Patmos, pp. 260, 261.
[24] Ibidem, pp. 261-264.

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