Apocalipse, Capítulo 13 Explicado (1ª parte)


A luta milenar pela liberdade religiosa

Versículos 1-4 — “E eu pus-me sobre a areia do mar e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e, sobre os chifres, dez diademas, e, sobre as cabeças, um nome de blasfêmia. E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés, como os de urso, e a sua boca, como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. E vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta. E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?”

    O mar é símbolo de “povos, e multidões, e nações, e línguas” (Apocalipse 17:15). Uma besta é o símbolo bíblico de uma nação, ou poder. Por vezes representa apenas o poder civil e por vezes o eclesiástico junto com o civil. Sempre que se vê uma besta subir do mar, quer dizer que o poder se levanta de um território densamente povoado. Se os ventos são representados como soprando sobre o mar, como em Daniel 7:2 e 3, são indicados alvoroço político, lutas civis e revoluções. 
    Pelo dragão do capítulo anterior e a primeira besta deste capítulo, o poder romano é representado como um todo em suas duas fases, pagã e papal. Daí que, estes símbolos, tanto um como outro, têm sete cabeças e dez chifres. (Ver os comentários do capítulo 17:10).
    Como leopardo — A besta de sete cabeças e dez chifres, semelhante a leopardo, aqui apresentada, simboliza um poder que exerce tanto a autoridade eclesiástica como a civil. Este ponto é suficiente para justificar a apresentação de alguns argumentos para comprová-lo.
    A cadeia profética a que se prende este símbolo começa com Apocalipse 12. Os símbolos de governos terrenos abrangidos na profecia são: o dragão do capítulo 12, a besta semelhante ao leopardo e a besta de dois chifres do capítulo 13. A mesma cadeia profética continua evidente até o capítulo 14. De Apocalipse 12:1 até Apocalipse 14:5, temos, pois, uma cadeia profética distinta e completa em si mesma. 
    Cada um dos poderes aqui introduzidos é representado como feras perseguidoras da igreja de Deus. A cena é iniciada com a igreja, sob o símbolo de uma mulher, aguardando ansiosamente que se cumprisse a promessa de que a sua Semente, o Senhor da glória, aparecesse entre os homens. O dragão estava diante da mulher para tragar o seu Filho. Seu mau intento foi contrariado e o Filho foi arrebatado para Deus e o Seu trono. Segue-se um período em que a igreja sofre dura opressão do poder representado por esse dragão. Nessa parte da cena o profeta ocasionalmente olha adiante, quase até o fim, porque todos os inimigos da igreja seriam controlados pelo espírito do dragão. Em Apocalipse 13:1 voltamos ao tempo em que a besta semelhante ao leopardo, sucessora do dragão, começa a sua carreira. A igreja sofre guerra e perseguição deste poder durante o longo período de 1.260 anos. Em seguida a este período de opressão, a igreja tem outro conflito breve, mas severo, com a besta de dois chifres. Logo vem a libertação. A profecia termina com a igreja livre de todas as perseguições, e de pé, vitoriosa com o Cordeiro no Monte Sião. Graças a Deus pela segura promessa de vitória final!
    A única personagem que se manifesta sempre a mesma em todas essas cenas, e cuja história é o tema principal através de toda a profecia, é a igreja de Deus. As outras personagens são os seus perseguidores, e são apresentadas simplesmente como tais. Aqui, como pergunta introdutória, indagamos: Quem ou o que é que persegue a verdadeira igreja? É uma igreja falsa ou apóstata. Quem guerreia sempre contra a verdadeira religião? É uma religião falsa. Quem jamais ouviu que o simples poder civil de qualquer nação tenha perseguido o povo de Deus por sua iniciativa própria? Os governos podem guerrear contra outros governos para vingar alguma afronta real ou imaginária, ou para conquistar território e estender o seu poder. Mas os governos não perseguem (note-se a palavra, não perseguem) ninguém por causa da sua religião, a menos que sejam controlados ou influenciados por algum sistema religioso oposto ou hostil.
    A besta semelhante ao leopardo é um poder perseguidor — Os poderes apresentados nesta profecia — o dragão, a besta semelhante ao leopardo e a besta de dois chifres dos versículos 11-17 — são todos poderes perseguidores. São impelidos por sua inimizade contra o povo e igreja de Deus. Este fato constitui por si mesmo uma prova suficientemente persuasiva de que em cada um desses poderes o elemento eclesiástico ou religioso é o poder controlador.
    Tomemos o dragão. Que simboliza? A resposta é objetiva: Em primeiro lugar, Satanás, como foi antes demonstrado; e em segundo lugar, o Império Romano. Mas isso não basta. Ninguém ficaria satisfeito com essa simples resposta. Deve ser mais definida. Acrescentamos então: O Império Romano na sua forma pagã, que todos concordam. Mas logo que dizemos pagã, apresentamos um elemento religioso, porque o paganismo é um dos mais gigantescos sistemas de religião falsa que Satanás já inventou. Portanto, o dragão é a tal ponto um poder eclesiástico, que a própria característica que o distingue é um sistema religioso falso. O que levou o dragão a perseguir a igreja de Cristo? Foi porque o cristianismo estava vencendo o paganismo, dissipando suas superstições, derrubando seus ídolos, e destruindo a utilidade de seus templos (Atos 19:23-28). Foi atingido o elemento religioso desse poder, e a partir disso, a perseguição se instalou. 
    Chegamos agora à besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13. Que simboliza? A resposta continua a apontar o Império Romano. Mas o dragão simbolizava o Império Romano. Por que não é ainda representado pelo mesmo símbolo? Porque houve uma mudança no caráter religioso do império. Essa besta simboliza Roma na sua fase pretensamente cristã, e é essa mudança de religião, e isso apenas, que torna necessária uma mudança de símbolo. Essa besta apenas diverge do dragão por apresentar um aspecto religioso diferente. Daí seria errado afirmar que representa apenas o poder civil romano.
    É um símbolo do papado — A essa besta o dragão dá o seu poder, o seu trono e grande autoridade. Que poder sucedeu Roma pagã? Todos nós sabemos que foi Roma papal. Para o nosso objetivo não interessa saber quando ou por que meios se operou esta mudança. O grande fato que se destaca e é reconhecido por todos, é que a seguinte importante fase do Império Romano depois da sua forma pagã foi a papal. Não seria correto, portanto, afirmar que Roma pagã deu seu poder e seu trono a uma forma de governo meramente civil, sem nenhum elemento religioso. Nenhum esforço de imaginação pode conceber semelhante transação. Mas duas fases do império são aqui reconhecidas, e, na profecia, Roma é pagã até que chega a ser papal. A afirmação de que o dragão deu à besta semelhante ao leopardo seu poder e seu trono é mais uma prova de que o dragão de Apocalipse 12:3 simboliza Roma pagã; mas atrás de ambos os poderes está Satanás que os dirige em sua obra de impiedade.
    Mas pode ser que alguém diga que, tanto a besta semelhante ao leopardo como a besta de dois chifres são essenciais para constituir o papado, e que por isso elas recebem do dragão seu poder, trono e grande autoridade. Mas a profecia não diz isso. O dragão trata somente com a besta semelhante ao leopardo. Só a essa besta é que ele dá seu poder, trono e grande autoridade. Esta é a besta que tem uma cabeça ferida de morte, que depois é curada. Esta á a besta que faz com que todo o mundo se maravilhe após ela. É esta besta cuja boca diz blasfêmias, e que faz guerra aos santos durante 1.260 anos. Faz tudo isso antes de entrar em ação o poder seguinte, a besta de dois chifres. Portanto, só a besta semelhante ao leopardo simboliza o Império Romano em sua forma papal sob o domínio da influência eclesiástica.
    É idêntica ao chifre pequeno — Para mostrar isto melhor, basta-nos estabelecer um paralelo entre o chifre pequeno de Daniel 7:8, 20, 24 e 25 e este poder. Essa comparação torna claro que o chifre pequeno e a besta semelhante ao leopardo simbolizam o mesmo poder. O chifre pequeno é reconhecido como um símbolo do papado. Podemos dar seis pontos que estabelecem sua identidade:
1) O chifre pequeno era um poder blasfemo. “Proferirá palavras contra o Altíssimo.” (Daniel 7:25). A besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13:6 faz o mesmo: “Abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus”.
2) O chifre pequeno fazia guerra contra os santos e os vencia (Daniel 7:21). Também esta besta (Apocalipse 13:7) faz guerra aos santos e os vence.
3) O chifre pequeno tinha uma boca que falava grandiosamente (Daniel 7:8 e 20). E desta besta lemos: “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias.” (Apocalipse 13:5).
4) O chifre pequeno levantou-se ao cessar a forma pagã do Império Romano. A besta de Apocalipse 13:2 surge no mesmo tempo, porque o dragão, Roma pagã, dá-lhe o seu poder, seu trono e grande autoridade.
5) Foi dado poder ao chifre pequeno para continuar por um tempo e tempos e metade de um tempo (Daniel 7:25). A esta besta também foi dado poder por quarenta e dois meses, ou 1.260 anos (Apocalipse 13:5).
6) Ao fim daquele período especificado de 1.260 anos, os “santos”, “os tempos” e a “lei” iam ser libertos da “mão” do chifre pequeno (Daniel 7:25). No fim do mesmo período a própria besta semelhante ao leopardo havia de ser levada “em cativeiro” (Apocalipse 13:10). Ambas essas especificações se cumpriram no cativeiro e exílio do papa, e na queda temporária do papado provocada pela França, em 1798. 
    Esses seis pontos identificam satisfatoriamente a identidade do chifre pequeno, com a besta semelhante ao leopardo. Quando temos na profecia dois símbolos, como neste caso, representando poderes que entram em ação ao mesmo tempo, ocupam o mesmo território, mantêm o mesmo caráter, fazem a mesma obra, existem durante o mesmo período e têm o mesmo destino, esses símbolos obviamente representam o mesmo poder.
    Recebeu uma ferida mortal — A cabeça ferida de morte foi a papal. Somos levados a essa conclusão pelo princípio evidente de que aquilo que é dito em profecia a respeito do símbolo de qualquer governo, aplica-se a esse governo só enquanto o mesmo é representado por esse símbolo. Ora, Roma é representada por dois símbolos — o dragão e a besta semelhante ao leopardo —, porque apresentou duas fases: a pagã e a papal. E o que se diz do dragão só se aplica a Roma na sua forma pagã, e o que se diz da besta semelhante ao leopardo só se aplica a Roma na sua forma pretensamente cristã. João diz que uma das cabeças dessa última besta semelhante ao leopardo foi a que recebeu a ferida de morte. Em outras palavras, essa ferida foi infligida à forma de governo que existia no Império Romano depois da evolução do paganismo para o cristianismo. É então evidente que a cabeça papal foi a que surgiu ferida de morte e cuja ferida mortal foi curada. O fato de ter sido assim ferida é o mesmo que ir em cativeiro (Apocalipse 13:10). Foi infligida a ferida quando o papa foi levado prisioneiro pelo general francês Berthier, e o governo papal foi temporariamente abolido, em 1798. Desprovido do seu poder, tanto civil como eclesiástico, o papa Pio VI morreu no exílio, em Valença, na França, em 29 de agosto de 1799. Mas a ferida mortal foi curada quando o papado foi restabelecido, embora com uma diminuição do seu antigo poder, pela eleição de um novo papa, em 14 de março de 1800. [138]

Versículos 5-10 — “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para continuar por quarenta e dois meses. E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu. E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda tribo, e língua, e nação. E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a paciência e a fé dos santos.”

    Profere blasfêmias — Essa besta abre a sua boca “em blasfêmias contra Deus, para Lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu.” Já se mencionou, nos comentários sobre o livro de Daniel, o significado da expressão: “Falará palavras contra o Altíssimo.” (Daniel 7:25). No versículo cinco deste capítulo, são usadas palavras semelhantes, pois tinha “boca que proferia arrogâncias”. Mas é acrescentado “blasfêmias”, o que indica evidentemente que as “arrogâncias” seriam declarações blasfemas contra o Deus do céu.
    Nos Evangelhos encontramos duas indicações do que constitui uma blasfêmia. Em João 10:33 lemos que os judeus acusaram falsamente a Jesus de blasfemar porque disseram: “sendo Tu homem, Te fazes Deus a Ti mesmo”. A acusação no caso do Salvador era falsa, porque Ele era o Filho de Deus, era “Emanuel, Deus conosco”. Mas quando um homem assume as prerrogativas de Deus e os títulos da Divindade, isto constitui uma blasfêmia.
    Em Lucas 5:21 os fariseus procurando surpreender a Jesus em Suas palavras, perguntam: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Jesus podia perdoar pecados porque Ele era o divino Salvador. Mas quando um homem mortal declara ter tal autoridade, ele certamente blasfema.
    Poderíamos perguntar se o poder apresentado por este símbolo cumpriu esta parte da profecia. Nos comentários sobre Daniel 7:25 vimos claramente que tinha falado “palavras contra o Altíssimo”. Observemos agora o que é dito acerca de como o sacerdócio pretende perdoar pecados:

“O sacerdote ocupa o lugar do próprio Salvador, pois ao dizer: ‘Ego te absolvo’ [Eu te absolvo], absolve do pecado [...]. Para perdoar um só pecado se requer toda a Onipotência de Deus [...]. Mas o que unicamente Deus pode fazer por sua Onipotência, o sacerdote pode fazê-lo também dizendo: ‘Ego te absolvo a peccatis tuis’. [...] Inocêncio III escreveu: ‘Na verdade, não é exagerado dizer que em vista do caráter sublime de seu cargo, os sacerdotes são outros tantos deuses.’” [139]

    Notemos ainda outras declarações blasfemas daquele poder:

Mas nossa admiração deve ser muito maior quando encontramos que em obediência às palavras de seus sacerdotes: HOC EST CORPUS MEUM [Este é o meu corpo], Deus mesmo desce ao altar, acode aonde quer que o chamem, e se coloca em suas mãos, mesmo que sejam seus inimigos. E tendo acudido, fica, completamente a seu dispor; eles o transladam como querem de um lugar a outro; podem, se assim o desejam, encerrá-lo no tabernáculo, ou expô-lo sobre o altar, e levá-lo fora da igreja; podem, se quiserem, comer sua carne e dá-lo para alimentar a outros. “Oh, quão grande é seu poder”, diz São Lorenzo Justiniano, falando dos sacerdotes. Cai uma palavra de seus lábios, e o corpo de Cristo está aqui substancialmente formado com a matéria do pão, e o Verbo Encarnado descendo do céu se acha realmente presente sobre a mesa do altar! (Idem, p. 26, 27).

Assim pode o sacerdote, em certa maneira, ser chamado criador de seu Criador. [...] “O poder do sacerdote — diz São Bernardino de Siena — é o poder da pessoa divina; porque a transubstanciação do pão requer tanto poder como a criação do mundo” (Idem, p. 32, 33). (Trecho retirado na versão Vida Plena)

    Assim é como esta potência representada pela besta blasfema contra o templo do Céu, chama a atenção de seus súditos para seu próprio trono e palácio em vez de ao tabernáculo de Deus, desviando sua atenção do sacrifício do Filho de Deus ao sacrifício da missa.     
    Blasfema contra os que moram no Céu, assumindo o poder de perdoar os pecados, e assim desvia aos homens da obra mediadora de Cristo e Seus assistentes celestiais no santuário do alto. 
    O versículo 10 nos faz voltar aos eventos de 1798, quando esse próprio poder, que durante o 1.260 anos manteve os santos de Deus em cativeiro, foi levado em cativeiro.

Versículo 11 — “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão.”

    Este versículo apresenta o terceiro grande símbolo da cadeia profética que estamos examinando, geralmente denominado a besta de dois chifres. Perguntamos qual a sua aplicação. O dragão, a Roma pagã, e a besta semelhante ao leopardo, a Roma papal, apresentam-nos grandes organizações como representantes de dois grandes sistemas de religião falsa. A analogia parece exigir que o outro símbolo, a besta de dois chifres, tenha uma aplicação semelhante, e encontre o seu cumprimento em alguma nação, representativa ainda de outro grande sistema de religião. O único sistema restante que está exercendo uma influência dominadora no mundo de hoje é o protestantismo. Abstratamente considerado, o paganismo abrange todos os países pagãos, com mais de metade da população do globo. O catolicismo, que pode ser considerado como abrangendo a religião da igreja grega ortodoxa, quase igual a ele, pertence a nações que constituem uma grande parte da cristandade. Em outras profecias foi-nos delineado o quadro do maometismo e sua influência (ver os comentários sobre Daniel 11 e Apocalipse 9). Mas o protestantismo é a religião das nações que constituem a vanguarda do mundo quanto à liberdade, ilustração, progresso e poder.
    Um símbolo dos Estados Unidos — Portanto, se o protestantismo é a religião que devemos buscar, a que nação, como representante daquela religião, se aplica a profecia? Há notáveis nações protestantes na Europa, mas por razões que se verão depois, o símbolo não pode ser aplicado a elas. Uma cuidadosa investigação levou-nos à conclusão de que se aplica à América protestante, ou seja, aos Estados Unidos da América do Norte. Vamos considerar cuidadosamente a razão de tal aplicação e a evidência em que se apoia.
    Há razões pelas quais devemos esperar que os Estados Unidos sejam mencionados na profecia? Em que condições outras nações encontraram um lugar no registro profético? Primeiro, porque desempenharam um papel importante na história do mundo; e segundo, porque tiveram jurisdição sobre o povo de Deus ou com esse povo mantiveram importantes relações. Nos relatos da Bíblia e da história secular encontramos dados de onde deduzimos esta regra acerca da menção profética dos governos terrestres: Uma nação entra na profecia sempre que a obra e o destino do povo de Deus ficam definitivamente vinculados a ela. Todas essas condições certamente se observaram no caso dos Estados Unidos. Atraiu a atenção de muitas mentes a convicção de que o nascimento e o progresso dessa nação foram tais que a Providência considerou adequado predizê-los na profecia.
    O governador Pownal, estadista inglês, predisse em 1780, estando em prosseguimento a Revolução Americana, que este país se tornaria independente, e que o animaria uma atividade civilizadora muito além da que a Europa jamais conheceu; e que chegaria a todos os confins do globo seu poder comercial e naval. Menciona em seguida o provável estabelecimento deste país como um poder livre e soberano, e o chama “uma revolução com mais estranhos indícios de intervenção divina, em substituição do curso ordinário dos negócios humanos, do que qualquer acontecimento que o mundo tenha experimentado” (Citado por Charles Summer, “Prophetic Voices About America”, em Atlantic Monthly, Setembro de 1867, p. 290). (Trecho retirado na versão Vida Plena)
    George Alfred Townsend, falando dos infortúnios que sobrevieram aos outros governos neste continente, diz:

“A história dos Estados Unidos foi separada por uma Providência benéfica para longe da selvagem e cruel história do resto do continente.” [140]

    Considerações como estas sugerem a cada mente a forte expectativa de que a nação de que nos ocupamos tem um papel a desempenhar para levar avante os providenciais propósitos de Deus neste mundo, e de que se fale dele na palavra profética.
    Cronologia deste poder — Em que período da história deste mundo a profecia localiza o surgimento deste poder? Sobre este ponto o fundamento para as conclusões a que devemos chegar já está posto nos fatos descobertos com relação à besta semelhante ao leopardo. Seria quando a besta foi para o cativeiro, ou foi morta à espada (versículo 10) ou quando teve uma das suas cabeças ferida de morte (versículo 3), pois então é que João viu subir a besta de dois chifres. Se a besta semelhante ao leopardo significa o papado, como comprovamos, e o aprisionamento em cativeiro encontra seu cumprimento na destruição temporária do papado pelos franceses em 1798, então temos especificado o tempo em que devemos procurar o nascimento deste poder [da besta de dois chifres]. A expressão “subir” deve significar que o poder a que se refere era recém-organizado, e assumia então preeminência e influência. 
    Pode alguém ter dúvida sobre qual nação esteve a “subir” em 1798? É obrigatória a admissão de que os Estados Unidos estão satisfazendo as especificações da profecia neste ponto da linha cronológica.
    A luta das colônias americanas pela independência iniciou-se em 1775. Em 1776 foram declaradas como uma nação livre e independente. Em 1777 se reuniram em Congresso e adotaram os artigos de sua Constituição, os delegados dos treze estados originais: New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Nova Jérsei, Pensilvânia, Delaware, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. Em 1783 terminou a guerra da Independência com um tratado de paz com a Grã-Bretanha, que reconhecia a independência dos Estados Unidos e lhes concedia um enorme território. O episódio ocorreu em Paris, e ficou conhecido como o Tratado de Paris. [141] Em 1787 foi elaborada uma Constituição; em 26 de julho de 1788 onze dos estados originais a haviam ratificado; e entrou em vigor em 1º de março de 1789. Os Estados Unidos começaram, pois, com algo mais que dois milhões de quilômetros quadrados de superfície e menos de quatro milhões de habitantes. Assim chegamos ao ano 1798, quando a nação foi introduzida na profecia.
    Wesley, nas suas notas sobre Apocalipse 14, escritas em 1754, diz da besta de dois chifres:

“Ainda não veio, embora não possa estar longe, porque deve aparecer no fim dos quarenta e dois meses da primeira besta.” [142]
    
    Idade desse poder — Há na profecia boas evidências de que o governo simbolizado pela besta de dois chifres é introduzido na primeira parte da sua carreira, quer dizer, enquanto era um poder ainda jovem. As palavras de João são: “E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro.” Por que não diz João simplesmente: “Tinha dois chifres”? Por que acrescenta: “Semelhantes aos de um cordeiro”? Deve ser com o propósito de indicar o caráter dessa besta, mostrando que não apenas se conduz de modo inocente e inofensivo, mas também que é um poder jovem, porque os chifres de um cordeiro são chifres que mal começam a crescer.
    Tenhamos em mente que pelo argumento precedente sobre a cronologia, o nosso olhar se fixou no ano 1798, quando o poder simbolizado era jovem. Que poder notável começava nessa altura a tornar-se eminente, mas ainda jovem? Não era a Inglaterra, nem a França, nem a Rússia, nem qualquer outro poder europeu. Procurando um poder jovem que se levanta nessa época, somos obrigados a voltar os nossos olhos para o Novo Mundo. Mas logo que os voltamos nessa direção, fixam-se inevitavelmente sobre os Estados Unidos como sendo o poder em questão. Nenhum outro poder deste lado do Oceano se enquadra na descrição.
    Localização da besta de dois chifres — Uma só declaração da profecia basta para nos guiar a importantes e corretas conclusões sobre este ponto. João chama-a “outra besta”. Não é certamente nenhuma parte da primeira besta; e o poder simbolizado por ela também não é parte do que é representado pela primeira besta. Isso é fatal para a pretensão dos que, para evitar a aplicação deste símbolo aos Estados Unidos, dizem que se trata de alguma fase do papado, pois em tal caso constituiria uma parte da besta precedente, a besta semelhante ao leopardo.
    Visto que é “outra” besta que subia da terra, deve ser procurado em algum território não abrangido por outros símbolos. Vejamos, pois, sumariamente, os símbolos da Palavra de Deus que representam governos terrestres. Babilônia e Medo-Pérsia abrangiam toda a parte civilizada da Ásia. A Grécia abrangia a Europa ocidental, inclusive Rússia. Roma, com os dez reinos em que foi dividida, segundo representado pelos dez dedos da estátua de Daniel 2, os dez chifres da quarta besta de Daniel 7, os dez chifres do dragão de Apocalipse 12 e os dez chifres da besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13, abrangia toda a Europa ocidental. Em outras palavras, todo o hemisfério oriental conhecido pela história e a civilização fica abrangido por símbolos proféticos acerca de cuja aplicação não resta a menor dúvida.
    Mas há uma poderosa nação no hemisfério ocidental, que é, como vimos, digna de ser mencionada na profecia, mas que ainda não foi apresentada. Resta um símbolo cuja aplicação ainda não foi feita. Todos os símbolos, exceto um, estão aplicados, e todas as partes do hemisfério oriental estão abrangidas pelas aplicações. De todos os símbolos mencionados, só resta um: a besta de dois chifres de Apocalipse 13. De todos os países da Terra dos quais há motivo para serem mencionados em profecia, só resta um: os Estados Unidos da América do Norte. Representam os Estados Unidos a besta de dois chifres? Se assim for, então todos os símbolos têm aplicação e é abrangido todo o território. Se não, então os Estados Unidos não estão representados na profecia, e a besta de dois chifres não tem nenhuma nação a que possa aplicar-se. Mas a primeira dessas suposições não é provável e a segunda não é possível.
    Outra consideração que indica o local deste poder é extraída do fato de que João viu a besta subir da terra. Se o mar, donde a besta semelhante ao leopardo sobe (Apocalipse 13:1), representa povos, nações e multidões (Apocalipse 17:15), a terra deve sugerir, por contraste, um território novo e anteriormente desocupado. Se excluímos os continentes orientais e buscamos um território anteriormente desconhecido para a civilização, voltamo-nos necessariamente para o hemisfério ocidental. (Trecho retirado na versão Vida Plena)
    Como surgiu — A maneira como subiu a besta de dois chifres prova, juntamente com a sua localização, sua idade e sua cronologia, que se trata de um símbolo dos Estados Unidos. João viu a besta subir “da terra”. Esta expressão deve ter sido usada de propósito para estabelecer o contraste entre o surgimento desta besta e o de outros símbolos proféticos nacionais. As quatro bestas de Daniel 7 e a besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13 subiram todas do mar. As novas nações levantam-se geralmente pela extinção de outras nações e ocupam o seu lugar. Mas nenhuma outra nação foi abatida para dar lugar aos Estados Unidos, e a luta pela independência já estava quinze anos no passado quando essa potência entrou no campo da profecia. O profeta viu só um quadro de paz.
    A palavra usada no versículo 11 para descrever o modo como esta besta sobe é muito expressiva. É [anabainon], e uma de suas definições é: “Crescer ou brotar como uma planta”. E é um fato notável que esta mesma figura foi escolhida por escritores políticos, sem referência à profecia, como sugerindo a melhor ideia do modo como nasceram os Estados Unidos.
    George Alfred Townsend, diz:

“Nessa teia de ilhas, as Antilhas, começou a vida de ambas as Américas [do Norte e do Sul]. Ali viu Colombo a terra. Ali começou a Espanha seu brilhante império ocidental. Dali partiu Cortez para o México, de Soto para o Mississipi, Balboa para o Pacífico, e Pizarro para o Peru. A história dos Estados Unidos foi separada por uma benéfica providência desta selvagem e cruel história do resto do continente, e como silenciosa semente crescemos até chegar a ser um império. Ao mesmo tempo o próprio império, começando ao sul, foi varrido por tão interminável tempestade, que da sua história o que podemos assegurar é lido à luz dos próprios relâmpagos que o devastaram. O crescimento da América inglesa pode comparar-se a uma série de cantos líricos entoados por isolados cantores, que, fundindo-se, formam por fim um vigoroso coro, e este, atraindo a muitos de longe, cresce e prolonga-se, até que hoje assume a dignidade e proporções de canto épico.” [143]

    Um escritor do Dublin Nation, pelos idos de 1850, falou dos Estados Unidos como de um maravilhoso império que “surgira” e “diariamente aumentara seu poder e orgulho no meio do silêncio da terra.”
    Edward Everett, em um extrato do discurso sobre os exilados ingleses que fundaram este governo, declarou:

“Procuravam um local retirado, inofensivo pela sua obscuridade, seguro no seu afastamento, onde a pequena igreja de Leyden pudesse gozar liberdade de consciência? Eis as poderosas regiões sobre as quais, em conquista pacífica — victoria sine clade  [vitória sem luta] — hastearam os estandartes da cruz.” [144]

    Queira o leitor agora comparar as expressões “emergir da terra” e “emergir no meio do silêncio da terra”, “como silenciosa semente crescemos e convertemo-nos em império”, “poderosas regiões” ocupadas por “conquista pacífica”. A primeira é do profeta, afirmando o que sucederia quando a besta de dois chifres se levantasse. As outras são de escritores políticos dizendo o que sucedeu na história dos Estados Unidos. Pode alguém deixar de ver que as últimas três são sinônimas da primeira, e que registram um cumprimento absoluto da predição? 

    Outra pergunta segue, naturalmente: Subiram os Estados Unidos de modo a cumprir os pormenores da profecia? Vejamos: Pouco antes da grande reforma dos dias de Martinho Lutero, há mais de quatrocentos anos, foi descoberto este hemisfério ocidental. A Reforma despertou as nações, agrilhoadas sob as pesadas cadeias da superstição, para o fato de que todo homem tem o divino direito de adorar a Deus segundo os ditames da sua própria consciência. Mas os governantes não queriam perder a sua força, e a intolerância religiosa ainda oprimia o povo. Em tais circunstâncias, um corpo de heróis religiosos determinou por fim procurar nas selvas americanas aquela medida de liberdade civil e religiosa que tanto almejavam. Na busca do seu nobre propósito, cem desses exilados voluntários desembarcaram do Mayflower nas costas de Nova Inglaterra, em 21 de dezembro de 1620. “Ali”, diz Martyn, “nasceu a Nova Inglaterra”, e este foi “o seu primeiro balbuciar de criança em oração e ações de graças a Deus.”
    Outra colônia inglesa permanente foi estabelecida em Jamestown, Virgínia, em 1607. Com o passar do tempo, outras bases se estabeleceram, organizando-se colônias, todas elas sujeitas à coroa inglesa, até a Declaração da Independência, em 4 de julho de 1776.
    A população dessas colônias elevou-se em 1701 a 262.000; em 1749, a 1.406.000; em 1775, a 2.803.000. [145] Então começou a luta pela independência, o estabelecimento de um governo unido e a proclamação ao mundo de que todos ali podiam encontrar asilo da opressão e intolerância. Do Velho Mundo chegaram imigrantes aos milhares, e por meios pacíficos aumentaram a população e a prosperidade material da nova nação. Foram comprados grandes territórios ou adquiridos por tratado para que houvesse lugar onde instalar todos os que viessem. 
    O desenvolvimento dos Estados Unidos em sua prosperidade material e ilustração assombra o mundo, fornecendo ampla base para a aplicação da profecia. [146]
    O caráter de seu governo simbolizado — Nesta divisão do assunto encontramos evidências adicionais de que o símbolo representa os Estados Unidos. Ao descrever este poder, João diz que ele tinha “dois chifres semelhantes aos de um cordeiro”. Os chifres de um cordeiro indicam, juventude, inocência e amabilidade. Como poder recém-criado, os Estados Unidos correspondem admiravelmente ao símbolo no que respeita à idade, pois nenhuma outra nação se encontra nessas condições. Se considerarmos como índice de poder e caráter, é fácil descobrir o que constitui os dois chifres do governo, se conseguirmos certificar-nos do segredo da sua força e poder, e do que revela seu caráter aparente ou constitui sua profissão externa. O honorável J. A. Bingham dá-nos a chave de todo o assunto quando afirma que o objetivo de todos os que primeiro buscaram as praias da América do Norte era fundar “o que o mundo não tinha visto durante séculos, a saber, uma igreja sem papa e um estado sem rei.” Ou em outras palavras, um governo em que o poder eclesiástico devia estar separado do civil; quer dizer, um governo caracterizado pela liberdade civil e religiosa.
    Não é preciso argumentos para demonstrar que isto é precisamente o que professa o governo norte-americano. O artigo IV, seção 4 da Constituição dos Estados Unidos diz: “Os Estados Unidos garantirão a cada Estado desta União uma forma republicana de governo.” O artigo VI: “Nenhuma prova religiosa será jamais requerida como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos.” A primeira emenda feita na Constituição começa assim: “O Congresso não fará nenhuma lei acerca do estabelecimento de religião, ou proibindo o livre exercício dela.” Estes artigos professam a mais ampla garantia de liberdade civil e religiosa, a completa e perpétua separação da Igreja e do Estado. Que melhores símbolos disso podiam ser dados do que “dois chifres semelhantes aos de um cordeiro”? Em que outro país se pode encontrar uma condição de coisas que corresponda tão completamente a este aspecto do símbolo de Apocalipse 13?
    Republicano em sua forma — A besta de dois chifres representa uma nação com uma forma republicana de governo. A ausência de coroas tanto na cabeça como nos chifres é uma forte evidência quanto a isso. A coroa é um símbolo apropriado de uma forma de governo monárquico ou ditatorial, e a ausência de coroas neste caso sugere um governo em que o poder não reside em um único membro governante, porém nas mãos do povo. 
    Mas esta não é a prova mais convincente de que a nação aqui simbolizada é republicana em sua forma de governo. Pelo versículo 14 sabemos que é feito um apelo ao povo quando se realiza qualquer ação nacional: “Dizendo aos que habitam na Terra, que fizessem uma imagem à besta.” Se o governo fosse monárquico as questões nacionais dificilmente seriam submetidas dessa maneira ao povo. A Constituição sobre a qual estão fundados garante “uma forma republicana de governo”, como já demonstramos. Este é outro forte elo na cadeia de evidências de que este símbolo deve aplicar-se aos Estados Unidos da América. Não existe outro governo ao qual possamos aplicar razoavelmente este símbolo.
    Uma nação protestante — A besta de dois chifres simboliza uma nação que não se considera católica em sua essência. O papado é fundamentalmente uma união entre Igreja e Estado. A Constituição dos Estados Unidos da América do Norte (artigo VI) declara: “Nenhuma prova religiosa será jamais requerida como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos.” Com isso estabelece uma eterna separação entre Igreja e Estado. A liberdade civil e religiosa é um princípio fundamental do protestantismo. Os fundadores do grande país que chegou a ser os Estados Unidos, por terem vivido em tempos que lhes permitiram presenciar os resultados da união da Igreja com o Estado, mostraram-se zelosos pelas liberdades que consideravam e declaravam ser direitos inalienáveis de todos, e denunciavam a união entre Igreja e Estado. Portanto, do ponto de vista religioso, os Estados Unidos são uma nação protestante e cumprem admiravelmente os requisitos da profecia neste quesito. Assim, a profecia mais uma vez aponta diretamente a esta nação.
    Antes de entrar na discussão deste símbolo profético, recapitulemos os pontos já estabelecidos:

1) O poder simbolizado pela besta de dois chifres deve ser uma nação distinta dos poderes civis ou eclesiásticos do Velho Mundo.
2) Deve surgir no hemisfério ocidental.
3) Deve assumir preeminência e influência por volta do ano 1798.
4) Deve surgir de um modo pacífico e sossegado, não tendo um aumento de poder baseado em guerras agressivas e prósperas conquistas, como tem sucedido com outras nações.
5) O seu progresso deve ser tão evidente que surpreenderá quem o observa tal como o faria o perceptível crescimento de um animal perante seus olhos.
6) Deve ser republicano em sua forma de governo.
7) Deve ser protestante em sua religião.
8) Deve apresentar ao mundo, como um índice de seu caráter e dos elementos do seu governo, dois grandes princípios que são em si mesmos perfeitamente justos, inocentes e com o caráter de cordeiro.
9) Deve realizar a sua obra depois de 1798. 
    
    Vimos que todos estes nove pormenores se cumprem perfeitamente na história dos Estados Unidos; e que não se cumprem na história de nenhuma outra nação. É, portanto, impossível aplicar o símbolo de Apocalipse 13:11 a qualquer outra nação, exceto os Estados Unidos da América do Norte.
    Falará como dragão — Agora que identificamos os Estados Unidos da América do Norte como o poder simbolizado pela besta de dois chifres, podemos, sem temor nem preconceito, rastrear o curso que esta nação segue segundo o que a própria profecia traçou. Ao fazê-lo, observemos de novo que o dragão, o primeiro elo nesta cadeia profética, foi incansável perseguidor da igreja de Deus. A besta semelhante ao leopardo, que o seguia, foi igualmente um poder perseguidor, ceifando durante 1.260 anos milhões de vidas de seguidores de Cristo. Ao chegarmos à terceira besta, com dois chifres semelhantes ao do cordeiro, é dito que “falava como dragão”. Isto não pode senão significar que em algum momento mudará sua natureza de cordeiro para dragão, de modo a falar como dragão e agir como teria agido o dragão anteriormente. 
    Peço licença para dizer com relação a isto que nos é doloroso ver que uma nação nascida tão pacificamente e consagrada a princípios de governo tão nobres chegará a assumir a natureza das bestas que a antecederam e, fazendo isso, se rebaixará até perseguir o povo de Deus. Porém, não nos resta outro remédio senão deixar-nos guiar em nosso estudo pelo esboço divinamente inspirado na profecia. Visto que os Estados Unidos são o poder visado por este símbolo que fala como o dragão, segue-se que este governo há de promulgar leis injustas e opressoras contra a profissão e prática religiosas de alguns dos seus cidadãos a ponto de merecer o nome de poder perseguidor.

Versículo 12 — “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”

    Exercerá um poder perseguidor — Esta nação não apenas fala como dragão, mas também se declara que “exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença”. Se lançarmos um olhar retrospectivo, vamos descobrir que a primeira besta é a besta semelhante ao leopardo, símbolo do papado. A única conclusão que se pode tirar é que uma nação chamada protestante exercerá o poder perseguidor do papado e, portanto, virá a ser pseudo protestante, quer dizer o “falso profeta” mencionado em Apocalipse 19:20 e explicado assim:
    Esta nação exerce o poder coagindo o povo sob sua jurisdição a que “adorem a primeira besta”, o papado. A palavra grega traduzida aqui por “adorar” é muito significativa, pois vem do verbo [kuneo], “eu beijo”, com uma proposição que indica que o beijo se dirige a alguém — neste caso o papado —, ou seu titular, o papa. Geralmente é traduzido como “render homenagem, prostrar-se diante de”, conforme a versão LXX no decreto de Nabucodonosor a todos os “povos, nações e homens de todas as línguas”, que lhes ordenava: “vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro” levantada pelo rei Nabucodonosor no campo de Dura. (Daniel 3:4 e 5). Esta adoração deve significar a submissão das nações à autoridade e decreto das pessoas a quem tributam homenagem. Tal é o quadro que a profecia apresenta com respeito à adoração tributada ao papado por um povo chamado protestante.

Versículos 13 e 14 — “E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à Terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na Terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.”

    “Opera grandes sinais” — Na parte da predição que apresenta a obra da besta de dois chifres lemos que “opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à Terra, diante dos homens” Neste pormenor temos ainda outra prova de que os Estados Unidos são o poder representado pela besta de dois chifres. Ninguém nega que estamos vivendo numa época de sinais ou maravilhas. Você está convidado a reler nossas observações sobre Daniel 12:4 acerca dos feitos assombrosos de nossa época e acerca de algumas ilustrações dos grandes triunfos da criativa investigação científica.
    Mas essa profecia não está cumprida no grande avanço em conhecimento, nas descobertas e invenções, tão notáveis na época presente, porque os sinais e maravilhas a que o profeta se refere são evidentemente operados com o propósito de enganar o povo, como lemos no versículo 14: “E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta.”
    Devemos agora determinar por que meios são operados os milagres em questão, porque Apocalipse 16:13 e 14 fala de “espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro”. 
    O Salvador, ao predizer acontecimentos a ocorrer logo antes da Sua segunda vinda, diz: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.” (Mateus 24:24). Nesta passagem são preditos sinais, operados com o propósito de enganar, tão poderosos que, se fosse possível, até os próprios escolhidos seriam enganados por eles.
    Assim, temos uma profecia (e há muitas outras) apresentando o desenvolvimento, nos últimos anos, de um poder operador de prodígios, manifestado num grau espantoso e sem precedentes no interesse de propagar a mentira e o erro. Os “espíritos de demônios” iriam a “todo o mundo”, mas a nação com a qual isto estaria especialmente relacionado é o mesmo poder representado pela besta de dois chifres, ou o falso profeta. Devemos concluir, portanto, que a profecia indica que tal obra se realizará nos Estados Unidos. Vemos nós algo semelhante?
    Entre todas as classes da sociedade existe a crença e o ensino bem difundido de que o ser humano, ao morrer, deixa algo desprender-se de si, para ir a um lugar de recompensa ou castigo, um “espírito” ou “alma imortal. Tal crença leva-nos a perguntar: “Se os espíritos desencarnados estão vivos, por que não poderiam comunicar-se conosco?” Milhares creem que o podem fazer e o fazem, e são também numerosos os que dizem receber comunicações de seus amigos mortos. 
    Mas a Bíblia, nos mais explícitos termos, assegura-nos que os mortos estão inteiramente inativos e inconscientes até a ressurreição; que os mortos não sabem coisa alguma (Eclesiastes 9:5); que cessou toda a operação da mente (Salmos 146:4); que está suspensa toda a emoção do coração (Eclesiastes 9:6); e que não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma na sepultura, onde jazem (Eclesiastes 9:10). Portanto, qualquer ser ou espírito que vem até nós pretendendo ser um dos nossos amigos mortos, pretende algo que a Palavra de Deus declara ser impossível.
    Que nossos amigos ou parentes mortos não voltam a nós fica demonstrado em 2 Samuel 12:23, onde Davi diz acerca de seu filho morto: “Agora que é morta [a criança] [...] Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.” Qualquer ser ou espírito que vem a nós não pode ser um anjo bom, porque os anjos de Deus não mentem. Os espíritos de demônios sim, mentem, pois nisso consiste sua obra desde que seu líder enunciou a primeira mentira no Éden acerca da morte: “Não morrereis” (Gênesis 3:4; 2:17).
    Onde nasceu o espiritismo — O espiritismo corresponde à profecia no fato de ter a sua origem nos Estados Unidos, relacionando assim seus sinais com a obra da besta de dois chifres. Iniciando em Hydesville, estado de Nova York, na família de John D. Fox, na última parte de março de 1848, espalhou-se com incrível rapidez através de todo o mundo. 
    Essas supostas revelações causaram muita agitação, e algumas pessoas eminentes começaram a investigar o “engano das batidas”, como eram geralmente chamados os fenômenos espiritualistas. Desde então o espiritismo tem sido uma força crescente no mundo moderno. É difícil determinar o número de seus adeptos, porque muitos dos que creem e praticam seus ensinos declaram não pertencer a nenhuma denominação; mas por outro lado muitos dos que continuam pertencendo a diferentes organizações religiosas tentam, porém, comunicar-se com os mortos. Foi calculado que há 16 milhões de espíritas na América do Norte; e no mundo inteiro, incluindo os adeptos das religiões pagãs nas quais o espiritismo desempenha um papel muito importante, alcançando um total de várias centenas de milhões. [147]
    Como observou Sir Arthur Conan Doyle faz alguns anos:

“As humildes manifestações de Hydesville amadureceram e produziram resultados que atraíram o grupo mais seleto de intelectuais deste país durante os últimos vinte anos, e que na minha opinião estão destinados ao maior desenvolvimento da experiência humana que o mundo jamais viu.” [148]

“Se tal opinião do cristianismo fosse aceita em geral, e fosse reforçada pela certeza e demonstração da nova revelação que, na minha opinião, nos vem do mais além, parece-me que teríamos um credo que poderia unir as igrejas, estar reconciliado com a ciência, desafiar todos os ataques e manter a fé cristã por tempo indefinido.” [149]

    Ensinos do espiritismo — As doutrinas que os espíritas ensinam são diretamente contrárias à Palavra de Deus. Com relação à sua atitude para com a Bíblia, note-se o parágrafo seguinte:

“Não queremos ocultar o simples fato de que há algumas partes da Bíblia que não se unem com o nosso ensino, pois na verdade são a mistura do erro que chegou por meio do médium escolhido.” [150]

“Em nenhum caso os livros, em sua condição atual, são obra do autor a quem são atribuídos. Constituem a compilação de Esdras e seus escribas e não fazem senão incorporar os conceitos e as lendas da época. [O autor deste  trecho se refere aqui ao Antigo Testamento da Bíblia]. [...] Mencionamos isto para evitar imediatamente a necessidade de responder a quaisquer passagens desses livros que possam ser citadas como argumento.” [151]

    Leiamos agora o que os espíritas pensam de Cristo:

“Eles [os espíritos] testemunham também que Jesus Cristo não tem nada que ver com a questão da vida e morte, e eles [os espíritos dos mortos] nada sabem a respeito da ‘mediação de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.’” [152]

    Tampouco tem cabida a crença do espiritismo no segundo advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo:

“Jesus Cristo está agora ordenando Seus planos para ajuntar o Seu povo, para melhor revelar a verdade e purificá-los das crenças errôneas que foram acumuladas no passado. Ouvi algo disso em outras fontes. É isso então o retorno de Cristo? É o retorno espiritual. Não haverá retorno físico como o homem sonhou. Assim será o regresso dEle ao Seu povo, pela voz de Seus mensageiros falando àqueles que têm os ouvidos abertos.” [153]
    
    Os fenômenos do espiritismo — Quão significativas são estas palavras! Há séculos o vidente de Patmos declarou que nos Estados Unidos iria levantar-se um poder que faria “grandes sinais”, e aqui se apresenta o espiritismo declarando fazer estas coisas. 
    O espiritismo corresponde exatamente à profecia na exibição de grandes sinais e prodígios. Entre as suas muitas proezas podem-se mencionar estas: Vários objetos têm sido transportados de um lugar para o outro pelos espíritos; bela música produzida independentemente de qualquer intervenção humana com e sem o auxílio de instrumentos visíveis; numerosos casos comprovados de cura; pessoas transportadas através do espaço pelos espíritos na presença de muitas outras; levitação de mesas, que ficavam suspensas no ar, com várias pessoas nelas; têm-se apresentado espíritos em forma corpórea, falando com voz audível.
    O poder representado nesta profecia irá fazer fogo descer à Terra diante dos homens. Mas isto, como as demais manifestações de seu poder, tem por fim enganar “os moradores da terra”. Os milagres são realizados pelos “espíritos de demônios” (Apocalipse 16:14). E são muitas as admoestações da Palavra de Deus contra o estabelecer relações com esses espíritos maus. Na época da igreja primitiva foram dadas solenes advertências à igreja de Deus:

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1 Timóteo 4:1).

    O conselho que Deus dá a Seu povo nestes últimos dias é: 

“Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva.” (Isaías 8:19 e 20).

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Referências bibliográficas: 

[138] Ver BOWER, History of Popes, pp. 404- 428; Croly, George. The Apocalypse of St. John, p. 251.
[139] LIGÓRIO, Alfonso de. Dignity and Duties of the Priest, pp. 34-36.
[140] TOWNSEND, George Alfred. New World Compared With the Old, p. 635.
[141] O Tratado de Paris foi o acordo internacional pelo qual o extinto Reino da Grã-Bretanha reconheceu formal e oficialmente o fim da Guerra da Independência dos Estados Unidos e a independência dos Estados Unidos da América, pós-Revolução Americana. O tratado foi assinado no dia 3 de setembro de 1783 em Paris, visto que se tratava de um terreno neutro para ambos os litigantes. As outras nações combatentes – França, Espanha e República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos – tiveram tratados de paz separados.
O Tratado de Paris estabeleceu o seguinte: A Inglaterra reconhecia a Independência das Treze Colônias americanas e lhes entregava o território compreendido entre os Grandes Lagos, os Montes Apalaches e os rios Ohio e Mississippi. Para saber mais: → DULL, Jonathan R. A Diplomatic History of the American Revolution. Yale University Press, 1987. → KARNAL, Leandro … [et. al.] História dos Estados Unidos. São Paulo: Editora Contexto. 1ª ed. 2004.
[142] WESLEY, John. Explanatory Notes Upon the New Testament, p. 735, Comment on Revelation 13:11.
[143] TOWNSEND, George Alfred. The New World Compared With the Old, p. 635.
[144] EVERETT, Edward. Oration Delivered at Plymouth, December 22, 1824. Orations and Speeches, p. 42.
[145] United States Magazine, vol. 2, agosto, 1855, p. 71
[146] Banhado pelos oceanos Pacífico e Atlântico, os Estados Unidos fazem fronteira com o Canadá ao norte e com o México ao sul. O estado do Alasca está no noroeste do continente, fazendo fronteira com o Canadá no leste e com a Rússia a oeste, através do estreito de Bering. O estado do Havaí é um arquipélago no Pacífico Central. O país também possui vários outros territórios no Caribe e no Oceano Pacífico. Com 9,37 milhões de km² de área e uma população de mais de 300 milhões de habitantes (303.824.646 — senso de 2008), o país é o quarto maior em área total, o quinto maior em área contígua e o terceiro em população. Para saber mais: → ADAMS, J.Q., and Pearlie Strother-Adams (2001). Dealing with Diversity. Chicago: Kendall/Hunt. → CARLISLE, Rodney P.; Golson, J. Geoffrey. Manifest Destiny and the Expansion of America. Disponível em: < https://goo.gl/0NMlhF> Acesso em 15 set. 2015.
[147] Obviamente, números da época em que este livro foi escrito. De acordo com dados mais atuais, “[O] Espiritismo não é exatamente uma religião, mas também entra na lista. A sobrevivência do espírito após a morte e a reencarnação são as bases dessa doutrina, [...] [que] se expandiu pelo mundo a partir da publicação de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (1857). É no Brasil que se encontra a maior comunidade espírita do mundo: 1,3% da população do país é espírita.” Calcula-se que o Espiritismo alcance cerca de 13 milhões de adeptos no mundo.” [grifo nosso] — VILAVERDE, Carolina. As oito maiores religiões do mundo. Revista Superinteressante. São Paulo: Abril Cultural. 23 de janeiro de 2012. Disponível em: <http://goo.gl/KC0Ody> Acesso em 16 set. 2015.
[148] DOYLE, Sir Arthur Conan. The New Revelation, Metropolitan Magazine, janeiro, 1918, p. 69. [Esta fonte não consta no livro original, mas foi acrescentada].
[149] Ibidem, p. 75.
[150] MOSES, William Stainton. Spirit Teachings, p. 74.
[151] Ibidem, p. 189.
[152] FINDLAY, James A. The Rock of the Truth, p. 288.
[153] MOSES, William Stainton. Spirit Teachings, pp. 150, 151.

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